sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Alienigenas na Sala de Aula - Fragmentos

Fragmentos do Artigo “Alienígenas em Sala de Aula” (GREEN, Bill. BIGUM, Chris.)

Por Eduardo Henrique

Alienígenas na Sala de Aula

Os autores demonstram preocupação com as taxas de repetência no ensino médio, com a expansão da chamada cultura de mídia e a questão do “declínio” da vida contemporânea, elementos que indicam a emergência de uma nova geração.

O texto faz uma análise de uma pesquisa realizada na Austrália sobre a relação entre experiência estudantil e a cultura da informação, tendo como referência o ensino médio e a política de retenção escolar.

Faz-se necessário compreender a emergência de um novo tipo de estudante com novas necessidades e novas capacidades, teorizar a juventude contemporânea como um fenômeno de impressionante complexidade e contradição (juventude, cultura de mídia e pós-modernismo).

A construção social e discursiva da juventude envolve um complexo de forças que não se limitam à escola, o que não tem sido considerado por educadores, professores e responsáveis pelas políticas. Segundo os autores, é preciso pensar formas diferentes sobre as questões que envolvem pesquisas educacionais. Eles abordam o estudante-sujeito pós-moderno no contexto amplo de currículo do ensino médio, considerando a realidade escolar e a cultura fora desse contexto.

“Contexto socializador crítico”, a mídia como centro da (re)produção de identidades e cultura estudantil; Pedagogias exteriores ao processo de escolarização; e desvinculação entre currículo e escolarização – fatores que demonstram a importância de perspectivas teóricas mais amplas;

Existem limitações de grande parte das pesquisas educacionais que demonstram o evidente interesse na manutenção das formas educacionais tradicionais, submetendo as mudanças radicais a um processo de normalização;

A convergência entre teoria social e ficção científica, assinado por diversos autores, justificam a utilização do conceito “currículo cyborg” utilizado pelos autores desse texto;

(In) Formando a nação alienígena

Os autores argumentam que os estudantes podem estar vendo os educadores como alienígenas e os educadores vêm os estudantes como tal. Os pais e as mães também têm visto os estudantes dessa forma.

Vivemos um pânico moral causado pelo suposto desvio da juventude contemporânea. Desvio representado e construído como uma questão de deficiência, incompletude e inadequação. As incertezas e a falta de perspectiva na passagem da juventude para a fase adulta, fazem com que os jovens se tornem alienígenas que não irão embora, mas que ficarão e assumirão o comando. Devemos ter muita clareza sobre isso, sobre o que devemos esperar e sobre o que devemos fazer...

No filme “E.T.”, de Spilberg, uma cena que se passa em um laboratório de ciências em que o professor só é mostrado da cintura para baixo, chama a atenção dos autores do artigo. Eles questionam sobre quem é o alienígena na sala de aula e concluem que talvez sejam os adultos, visto que o “futuro pertence aos jovens”.

As gerações se sucedem, as mudanças sempre ocorreram, no entanto, a pós-modernidade transmite a todos muita incerteza, inclusive aos próprios jovens. As transformações são ainda mais constantes e muito intensas.

Vivemos numa “subjetividade pós-moderna”, onde a formação de identidade nova é provocada pelo nexo entre a cultura juvenil e a mídia. De acordo com os autores, o currículo se desvincula da escola na pós-modernidade, existe uma necessidade de reconceitualizar o currículo e a escola da condição moderna para pós-moderna. A “escolarização pós-compulsória” é uma fase intermediária e um espaço de transição, de ambivalência em tempos de mudança e problemático nexo tradicional entre emprego e economia;

Destaque para a importância do papel da cultura da mídia no mundo dos jovens, e a relação entre essa cultura e a escolarização, tentando compreender o fenômeno e as questões político-curriculares tendo como referência a pós-modernidade (“pós-modernismo cultural” e construção social);

Temos uma importante ruptura geracional e cultural caracterizada pelos jovens menores de 16 anos que sentem os efeitos e condições do pós-modernismo. Vivem e sentem as transformações na vida social contemporânea e a emergência de uma “novo mundo” (Datar, 1984, apud GREEN; BIGUM, 1995).

Na visão dos autores, o pós-moderno (citando Hayles) é a noção de desnaturalização da linguagem, do tempo, do contexto e do humano, o pós-moderno antecipa e implica o pós-humano, o Cyborg Humano, criatura de realidade social e de ficção;

É importante avaliar o nexo entre a cultura da mídia e a escolarização pós-moderna e os movimentos em direção à informatização e a tecnologização do currículo. Devemos avaliar o que já está ocorrendo em nossas salas de aula, os “alienígenas” já estão esperando por instruções sobre como herdará a terra. O “currículo Cyborg” já faz parte do processo de ensino e aprendizagem;

Pânico escolar e cultural popular: Conectando tecnologias

As discussões e controvérsias sobre juventude, cultura popular e meios eletrônicos de massa devem ser constantes. A ofensiva cultural em diversos países, entre eles a Austrália, é determinada em favor da elite.

Os autores citam uma reportagem de 1991 (“Escolas geram viciados em cultura popular”) que critica uma suposta geração viciada em televisão, vídeo e jogos de computadores, a possibilidade de gerar adultos sem sentido de história. “Retórica familiar, geração perdida e patologia da cultura popular”, a matéria resultou em editorial (“Caminhando para uma país ignorante”) no dia seguinte, reativando o “debate sobre o alfabetismo” e sobre o discurso da crise educacional.

Estudo que determina como sintomático da cultura pós-moderna não só a mudança cultural da literária para a popular, mas a cultura impressa para a cultura visual. Os autores caracterizam essa mudança como sendo a virada pós-moderna citada anteriormente no texto.

Dator (1989), citado no texto, é um autor que faz observações sobre as diferenças entre a cultura juvenil e a cultura dos mais velhos (“os alfabetizados na mídia versus os alfabetizados no impresso”); A necessidade de novas compreensões da relação entre tecnologias e pedagogias, escolarização e cultura da mídia. Formas cambiantes de currículo e alfabetismo, novas relações entre textualidade e subjetividade e novas efetivações da racionalidade e da cognição, novas forma de ver as colocações anteriores. A importância de relacionar a chamada “Tecnocultura” como os processos citados, a importância da “cultura Tecno-popular” como ambiente natural dos jovens.

As visões pessimistas precisam ser revistas, os discursos conservadores e contra o futuro de diversos autores. Atenção e tensão da união entre cultura popular e a tecnocultura (a cultura tecno-popular). A cultura da mídia produz nova formas de vida, escolarizar o futuro é ensinar com a diferença segundo Hayles (1990).

Existe uma proliferação do pânico moral entorno da escola, dos jovens e da mídia popular e o predomínio da tese de deficiência. Precisamos compreender que as deficiências são diferenças, reconhecer que as coisas mudaram, há novas formas de vida.

Tecnonatureza, mundos virtuais e Cyborgs: O sujeito da “IT”

A interação com a tecnologia é uma forma de nossa produção-de-sujeito. O Cyborg como fronteiras transgredidas tornando-se conceito máximo da pós-modernidade - o texto limita-se a uma forma específica de subjetividade moderna e suas codificações psico-simbólicas;

Fazem um jogo de palavras com a sigla IT (“it” e “id”) buscando compreender a complexa relação entre humanos e máquinas alienígenas e IT. O dualismo mente/corpo e a própria noção de mente, ciência e sujeito de conhecimento como Mente e a Tecnologia como (in)animado e necessário outro como corpo.

Com a tecnologização da natureza e a naturalização da tecnologia, faz-se necessário novos entendimentos sobre as associações dos homens com as tecnologias; “Cyborg” ou “Alienígena” são termos que auxiliam no entendimento das complexas interações no contexto de uma ecologia digital. Preferimos não notar as coisas não-familiares dentro da ecologia digital emergente, nos apegamos a categorias confortadoras e a memória de um mundo mais previsível e com menos incertezas.

Diante dos perturbadores olhares das crianças, “ampliadas” pelas novas tecnologias, percebemos as dificuldades da partilha dos muitos espaços ou mundos virtuais que os jovens habitam nesse eco-sistema digital;

Novos Ecoespaços

Nunca tivemos que lhe dar com tecnologias que operam à velocidade das novas tecnologias da informação. Vivemos em um espaço-velocidade. O texto e o contexto tornaram-se intercambiáveis e qualquer texto pode ser localizado em qualquer contexto. O “ciberspaço”, espaço vetorial através do qual milhões de computadores estão interconectados, imensas quantidades de informação são injetadas e mantidas.

A conexão do humano com o ciberspaço, interação contínua entre seu sistema nervoso e o circuito do computador, a fronteira de tempo entre máquina e organismo se confundem e consequentemente não se sabe o que é “texto” e que é “contexto”.

Só participamos do processo daquilo que é transmitido com o auxílio de outros recursos tecnológicos. As escolas têm se construído sempre em “refúgios” da mídia eletrônica. As escolas deverão ser reconstruídas para atender às necessidades da presença adequada de computadores para suprir o que é realizado nas casas, mas até o momento têm sido bem sucedidas na tarefa de “escolarizar” as novas tecnologias de informação. Numa visão radical as escolas tenderão a participar cada vez menos da ecologia digital externa, podendo ser extinta.

Novas espécies

Já identificamos de forma ampla e sistemática a hibridação entre humanos e máquinas, também formas extremas e desviantes de ligação entre humanos e máquinas. Há um aumento constante de difusão das novas tecnologias e elas estão cada vez mais presentes em nós e em nossos usos diários.

Enquanto nós nos adaptamos à ecologia digital que se desenvolveu ao nosso redor, os jovens nasceram nela, é para eles um ambiente natural. É equivocado considerar os “jovens cyborgs” como mais uma nova geração não se pode ignorar a natureza específica da tecnologia e sua velocidade e características geracionais. Os produtos de alta tecnologia também são caracterizados em termos de geração e a velocidade é determinante nesse sentido.

A união entre a máquina e o humano torna-se cada vez mais natural. Nossa experiência de vivência e acomodação em relação às mudanças que ocorreram não é comparável com as dos jovens que a cada geração vivenciam uma “Tecno-natureza” única.

Os “alienígenas” são produzidos por humanos que ocupam posições de influência e poder, tanto comercial quanto culturalmente.

Cada geração cyborg está associada com as características de velocidade do ecossistema digital no qual ele nasceu. Virilio evoca o termo “picnolepsia” para descrever o que ele chama de “tempo perdido”, picnolepsia é um fenômeno de massa, um estado paradoxal de vigília que complementa o estado paradoxal de sono.

As diferenças entre jovens cyborgs e cyborgs mais velhos são determinadas pelos contextos espaço-temporais tecnologicamente capacitados e reforçados A tecnologia que sustenta a velocidade-espaço começou a fazer cópias da velocidade-espaço para os humanos. Já vivemos, numa certo sentido, a realidade virtual por algum tempo, para os jovens cyborgs tudo pode ser simplesmente um espaço virtual inclusive a escola;

Conclusão

O que o texto chama de “Alienígenas” como uma nova forma de vida, representam um desafio, assim como a alienação dos jovens. Fazem parte de uma estrutura pós-moderna de sentimento exige dos professores novas formas de compreensão, novos recursos e um sentimento de humildade e reconhecimento da inevitabilidade da diferenças. Inevitável complexidade de se viver em novos tempos.

As escolas podem se tornar locais como mundos próprios onde “cuborgs geracionais” trocam possibilidades na tecno-realidade, mas é preciso reconstruir esses mundos juntamente com as novas gerações.


Referência

GREEN, Bill; BIGUM, Chris. Alienígenas na sala de aula. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. (org.) Alienígenas na sala de aula: Uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. (Coleção estudos culturais em educação)