domingo, 22 de abril de 2012

Interdidática 2012 - interessante, mas...


A Interdidática 2012 - Feira Internacional de Tecnologia Educacional (www.interdidática.com.br) realizada entre os dias 17 e 19 de abril, no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo capital, foi um evento, conforme o Prof. Márcio Roberto (UFSJ) já havia afirmado, voltada para os negócios e possíveis negócios envolvendo o uso ou perspectivas de uso das Tecnologias Digitais na Educação, ou seja, empresas apresentando seus "produtos" para os interessados, principalmente os diretores   de escolas, empresários da educação, secretarias de educação e professores. Esses últimos, na maioria dos casos e conforme alguns que tive a oportunidade de conversar, estavam lá para conhecer as novidades e o que está sendo disponibilizado no "mercado" para que as tecnologias digitais possam ser incorporadas à prática pedagógica. Esses professores tinham o interesse e a motivação pessoal e não necessariamente o incentivo das escolas e seus gestores.
Foi possível conhecer muitas coisas interessantes, equipamentos, softwares e recursos que possibilitam o uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) na Educação. Foram apresentados desde equipamentos e sistemas de gestão até serviços de formatação e disponibilização do material do professor para seus alunos. No entanto, muitos "produtos" me pareceram voltados simplesmente para os "negócios", oportunismo das empresas em "lucrar" com um filão do mercado, com um tema que está cada vez mais presente nas diversas mídias e que envolve os produtos que mais vem se destacando e ganhando espaço entre as empresas e a população em geral - celulares, smarthphones, computadores e tablets. Junta-se a isso o fato dos governos (municipais, estaduais e federal) sinalizarem altos investimentos em aquisição de tecnologias digitais para as escolas (não necessariamente para os professores e alunos, que é outro assunto que precisamos debater) e que a maioria das escolas ainda não realizaram os investimentos esperados nesse sentido. Ou seja, temos um mercado aberto para grandes negócios onde as empresas estão atentas e apostando alto.

Compreendo que dentro dessa lógica do sistema que vivemos, isso é ou era o que deveria ocorrer de fato, o problema é que algumas empresas não estão (ou pelo menos foi o que eu percebi em alguns casos) preocupadas e interessadas nas reais necessidades de se ter uma escola (ou a educação) coerente com as transformações que estamos vivendo nos últimos anos pelos avanços e mudanças culturais/sociais provocadas pelas tecnologias, com um adequação pertinente, prudente e significativa das TDICs nas práticas educativas. Nesse sentido, acredito que não podemos, infelizmente,  esperar que as empresas tenham essa preocupação, mesmo entendendo que agir dessa forma seria ético e, no mínimo, prudente. Assim, cabe aos interessados e aos gestores conhecer e identificar os melhores recursos e "produtos".
Foi possível conhecer aplicativos, softwares, sistemas, jogos, plataformas, kits (para experimentos e de robótica) e materiais pedagógicos voltados para o ensino das diversas áreas do conhecimento e de todos os níveis de ensino. No entanto, predominaram os recursos voltados para a educação infantil e para as áreas de português e matemática. Alguns muito bem elaborados, como jogos e simuladores produzidos por empresas incubadas em Universidades e material didática (impresso e digital) com recursos muito interessantes, onde o professor tem à disposição uma infinidade de vídeos, imagens, textos, jogos etc., para organizar, elaborar e desenvolver suas aulas, assim como as atividades dos conteúdos abordados em sala que podem ser disponibilizadas para que os alunos tenham acesso através do computador, do celular e de tablets - dentro das perspectivas apontadas pela m-learning.
Senti falta dos recursos voltados para a produção dos alunos, dispositivos que possibilitam aos alunos uma atuação mais autônoma e ativa no seu processo de aprendizagem, o que seria pertinente dentro de uma proposta de Educação na Cibercultura, na exploração dos recursos da Web 2.0 nas práticas de ensino e aprendizagem, como estamos discutindo nesse blog.
Mas o que predominou no evento foram as lousas digitais. Foram apresentados equipamentos simples, portáteis e com grande mobilidade, outros sofisticados com alta definição e inúmeros recursos, com tecnologias diversas (infravermellho, ultra sônica, resistiva, eletromagnética, etc.), com os preços variando entre 1.600,00 à 10.000,00 reais. Este talvez seja um dos dispositivos de maior aposta para uma suposta "modernização" (mesmo não gostando muito do termo, serve para o que estamos dizendo) das escolas. Diversas secretarias de educação, assim como escolas particulares, estão divulgando a aquisição deste equipamento.
Não querendo ser chato, mas já sendo... isso não significa mudanças realmente pertinentes ou transformadoras, claro que já é alguma coisa, pois os recursos disponibilizados pela maioria das lousas digitais ampliam as possibilidades de atuação tanto dos professores como dos alunos, podem proporcionar aulas mais criativas, dinâmica e interativas. Mas, conforme o que estamos procurando enfatizar e destacar a partir de diversos estudos, disponibilizar equipamentos e recursos não é o suficiente, são fundamentais, mas a forma com que isso é realizado, o entendimento sobre o que significa e o envolvimento de toda a comunidade escolar nesse processo também são fundamentais. Se os gestores, os professores, os alunos e os pais não compreenderem de fato o que tudo isso representa e pode representar, o porquê de se ter as TDICs nos processos educativos, os equipamentos por si só não irão contribuir para a melhoria e coerência da Educação na contemporaneidade.
Foi um evento interessante, mas confesso que esperava um pouco mais. Tenho consciência de que foi possível conhecer somente uma parte daquilo que está disponível no mercado, temos muitas outras opções de produtos que podem ser comprados e também adquiridos gratuitamente através de profissionais e organizações engajadas nas tecnologias e sistemas abertos e disponíveis a todos, na perspectiva da democratização e inclusão digital.
Fica o sentimento de que não dá para esperar muito dos empresários, falta criatividade e mais  entendimento e compreensão sobre o que está acontecendo ou poderá acontecer com a Educação com a apropriação e utilização efetiva das TDICs. Mas podemos contar com os especialistas, com as pesquisas e estudos que estão sendo realizados para que tenhamos de fato meios pertinentes para utilizar as TDICs nas transformações que esperamos e podemos ter nas práticas de ensino e aprendizagem. Os interessados e envolvidos nesse propósito sabem que temos muitas opções livres e abertas que podem ser apropriadas e utilizadas de forma personalizada, contextualizada e com muita criatividade, não precisamos ficar reféns dos produtos prontos e fechados, que custam caro e que, na maioria das vezes, estão disponíveis somente para poucos. 
Vamos continuar debatendo e aprendendo sempre. Muita Luz e Paz!!!

2 comentários:

  1. Alguma novidade sobre os livros didáticos digitais?

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  2. Pois é, meu amigo, realmente eu esperava mais sobre isso também, mas vi somente algumas opções. Me decepcionei com o evento por não ver muitas recursos pensados a partir da aprendizagem móvel. Tem empresas que oferecem serviços nesse sentido, digitalizam o material pedagógico, organizam, desenvolvem aplicativos e plataformas, mas pouca coisa. Se quiser eu envio alguns materiais pra vc. Obrigado e um abraço!!!

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